5.3.4.Eixo 4. Conhecer como vivem e pensam as crianças, adolescentes e jovens do território

As áreas de ponderação que compõem o Bairro-escola Vila Madalena possuem no conjunto uma população de 394.180 pessoas, o que corresponde a 3,5% da população total da cidade de São Paulo, estimada em 11.253.503. Quando considerados os distritos administrativos selecionados para compor o território (utilizados como aproximação – vide Mapa 13), tem-se uma população de 174.165 pessoas (uma diferença de 220.015). Essa diferenciação é importante para sabermos o contingente ao qual nos referimos ao usar um dado ou outro de acordo com a metodologia empregada nesta pesquisa.

Da população total do território considerado, 54,7% são do sexo feminino e 45,3% do sexo masculino. Em relação à autodeclaração de raça ou cor, 84,2% se declaram brancos, 6,3% se declaram pardos e apenas 2% se declaram pretos.

A maior parte da população está concentrada nas faixas de idade que variam entre 30 e 44 anos. Os adultos acima de 30 anos compõem 66,2% da população do território. As crianças, adolescentes e jovens (0 a 24 anos) representam cerca de um terço (33,8%) da população desta área – essa mesma faixa etária representa quase metade (47,8%) da população total do município, ainda mais jovem, portanto.

Entre a população do território, 12.161 (5,3%) são crianças em idade pré escolar (0 a 5 anos), 11.494 (5%) crianças na faixa do ensino Fundamental I e anos iniciais do Fundamental II (6 a 11 anos) e 5.731 (2,5%) são adolescentes de 12 a 14 anos e correspondem aos anos finais do Fundamental. São 6.299 (2,7%) adolescentes de 15 a 17 anos na faixa do Ensino Médio e 21.506 (18,4%) são jovens de 18 a 29 anos.

Distribuição da população das áreas de ponderação selecionadas, por faixas de idade, 2010.
Faixas de idade Centro Vila Madalena Fundão do Ângela
N % N % N %
0 a 5 anos criança pré escolar 9787 6,0 12161 5,3 21019 10,3
6 a 11 anos criança 9863 6,0 11494 5,0 24159 11,8
12 a 14 anos adolescente 4930 3,0 5731 2,5 12395 6,1
15 a 17 anos adolescente jovem 4956 3,0 6299 2,7 12105 5,9
18 a 24 anos jovem 19004 11,6 20975 9,1 26114 12,8
25 a 29 anos jovens adultos 17125 10,4 21506 9,3 19512 9,6
30 anos ou mais adultos 98822 60,1 153184 66,2 88964 43,6
Total 164487 100 231349 100 204268 100
Fonte: Censo 2010, IBGE, elaboraç¸a~o pro´pria.

Em 2010, o índice de envelhecimento (relação entre o número de idosos e a população jovem) nos distritos que compõem o território variou entre 153 e 185,3% (Tabela 90), bastante superiores ao índice de envelhecimento do município de São Paulo, 57,3% .

Índice de envelhecimento (pessoas de 60 e mais anos de idade, para cada 100 pessoas menores de15 anos de idade) dos distritos selecionados, 2010.  (percentual)
Centro
Barra Funda 129,4
Bom Retiro 67,7
Casa Verde 89,8
Santa Cecília 185,0
Pinheiros
Alto de Pinheiros 175,6
Lapa 153,0
Perdizes 160,8
Pinheiros 185,3
Jardim Ângela
Jardim Ângela 21,7
Fonte: Fundação SEADE. Informação dos distritos administrativos da capital, 2010.

Compõem esse quadro demográfico baixas taxas geométricas de crescimento da população (que expressa em termos percentuais o crescimento médio da população em um determinado período de tempo) – variando de -0,32 a 0,86 entre os distritos selecionados (Tabela 86) – e baixas taxas de natalidade (de 9,25 a 11,89 nascidos vivos para cada mil habitantes – Tabela 87. Na cidade, a taxa de natalidade varia em torno de 15,5. Assim, o perfil demográfico, baseado em crescimento negativo de alguns distritos e baixa taxa de natalidade, revela o Bairro-escola Vila Madalena em crescente processo de envelhecimento.

Taxa geométrica de crescimento anual da população dos distritos selecionados, 2000/2010 (percentual a.a.)
Centro
Barra Funda 1,01
Bom Retiro 2,40
Casa Verde 0,22
Santa Cecília 1,60
Pinheiros
Alto de Pinheiros -0,32
Lapa 0,86
Perdizes 0,81
Pinheiros 0,34
Jardim Ângela
Jardim Ângela 1,87
Fonte: Fundação SEADE. Informação dos distritos administrativos da capital, 2010.

Do total de mulheres que tiveram filhos no território em 2010, de 0,7 a 1,1% tornaram-se mães com menos de 18 anos. Em São Paulo esse percentual foi de 6%, o que mostra que o Bairro-escola Vila Madalena apresenta um baixo percentual de mães adolescentes. Na pesquisa realizada nas escolas de referência do Bairro-escola Vila Madalena, apenas uma aluna (de 12 anos) respondeu ter ou estar esperando filho.

Do ponto de vista da origem da população do território, a maior parte dos alunos pesquisados (76,9%) nasceu na cidade de São Paulo – apenas 5,1% nasceram em outra cidade do estado de São Paulo e 15,4% em outro estado. Trata-se de uma geração bastante paulistana, ainda que grande parte dos pais tenham vindo de outros estados (resultado de migrações anteriores) – tanto entre os pais quanto entre as mães, o percentual de nascidos em outro estado é de 59%, já 33,3% dos pais e 28,2% das mães nasceram na cidade de São Paulo. Apenas um aluno, um pai e uma mãe nasceram em outro país.

Ainda que nascidos em São Paulo, os alunos das escolas públicas do Bairro-escola Vila Madalena não parecem ter nascido e tampouco residir neste território. Mais da metade (61,5%) dos alunos reside fora do raio de 2km que delimita o espaço territorial do Bairro-escola Vila Madalena a partir das escolas referência. Dentre os três Bairro-escolas estudados, este é o menor percentual, ou seja, neste território, uma porcentagem maior de alunos mora fora do raio de 2km – 33% dos alunos levam mais de 30 minutos para chegar na escola.

O meio de transporte utilizado para ir à escola pode confirmar a ideia de que parte dos alunos não mora no território de referência da pesquisa – quando perguntados sobre como vão para a escola, 35,9% dos alunos responderam que costumam ir de carro, seguidos de 33,3% que vão a pé e 30,8% que utilizam ônibus.

As diferenças entre os alunos das duas escolas pesquisadas, neste aspecto da distância em que se encontram da escola, foram significativas. Na escola de Ensino Fundamental (mais novos), a maior parte (76%) dos alunos mora dentro do raio de 2km. Já na escola de Ensino Médio, menos da metade (35,7%) dos alunos mora dentro deste raio. Isso pode indicar que é no Ensino Médio, quando os jovens são mais velhos e têm mais autonomia para ir sozinhos à escola, que eles passam a estudar mais longe de casa.

Uma das explicações possíveis para esta escolha pode estar relacionada à qualidade das escolas: as escolas dos bairros de residência destes alunos podem ser consideradas pelas famílias de qualidade inferior e, assim, torna-se preferível o deslocamento (muitas vezes feito de carro ou de ônibus) a uma escola considerada de qualidade superior localizada em um bairro também mais provido e rico.

O sistema centralizado de matrículas permite que os interessados em cursar o Ensino Fundamental façam o cadastro em qualquer escola pública, estadual ou municipal, do Estado de São Paulo. De acordo com o local de moradia, o sistema designa a escola em que o estudante será matriculado, considerando uma distância máxima de até dois quilômetros. Muitas vezes, ao invés de apresentarem o comprovante de residência do local em que efetivamente moram, as famílias levam comprovantes de residência de endereços de referência, como o do trabalho da mãe ou da casa da avó, onde a criança passa o dia.

Já os ingressantes do Ensino Médio devem procurar uma unidade escolar estadual disponível, uma vez que este nível de ensino não faz parte do sistema centralizado.

Os resultados da pesquisa com os estudantes mostram que 14,3% visitam ou conhecem o trabalho da mãe/padrasto, indicando que, para alguns alunos, a escola fica próxima do trabalho dos pais, o que, neste caso, pode ser uma explicação possível para entender porque as famílias matriculam os filhos nesta escola e não em uma próxima de sua residência.

O Bairro-escola Vila Madalena é um dos territórios de São Paulo com menor percentual ( 7%) de domícilios com renda até 2 salários mínimos (SM), abaixo da linha da pobreza. Cerca de 27,8% dos domícilios têm renda entre 5 e 10 SM, considerada de classe média. Já as faixas correspondentes às classe social mais alta, a partir de 10 SM, concentra 64,6% dos domícilios (Tabela 77). Dos 224.798 domícilios de São Paulo com mais de 20 SM, 91.793 estão neste território, caracterizando-o como uma das regiões mais ricas de São Paulo (Infocidade, 2014).

Distribuição dos domicílios das áreas de ponderação selecionadas, por faixas de renda, 2010.
Faixas de renda Centro Vila Madalena Fundão do Ângela
N % N % N %
Até um SM 4557 2,8 2595 1,1 13532 6,6
de 1 a 2 SM 8202 5,0 5027 2,2 41680 20,4
de 2 a 3 SM 11140 6,8 7553 3,3 38871 19,0
de 3 a 5 SM 25332 15,4 15941 6,9 53663 26,3
de 5 a 10 SM 41851 25,4 40682 17,6 30962 15,2
de 10 a 20 SM 32104 19,5 57621 24,9 6045 3,0
Mais de 20 SM 26259 16,0 91793 39,7 1623 0,8
Sem renda 12689 7,7 8541 3,7 17783 8,7
Não declarado 2353 1,4 1596 0,7 108 0,1
Total 164487 100 231349 100 204268 100
Fonte: Censo 2010, IBGE, elaborac¸a~o pro´pria.

Já os dados primários coletados mostram uma concentração maior dos alunos da escola pública do território em faixas de renda menor: 43,3% com renda familiar até 4 SM, 30% na faixa de 5 a 10 SM e 10% com renda de 10 a 15 SM (Tabela 48) e apenas duas famílias declararam receber benefícios sociais do governo (Bolsa Família e Renda Mínima). Esse é outro indicador que parece revelar que o perfil das famílias do território é diferente do perfil das famílias dos alunos das escolas estudadas (aparentemente de menor renda).

Essa diferença talvez seja explicada pelo fato de a pesquisa ter sido feita em escolas públicas, onde a renda das famílias tende a ser menor. Ou ainda porque parte dos alunos não reside dentro do território analisado (como apontamos anteriormente) o que indica que possam ser residentes de territórios que apresentam uma renda da população menor.

Distrbuição dos alunos das escolas selecionadas, por renda familiar, 2012.
Escola Centro Escola Vila Madalena Escola Fundão do Ângela
TOTAL Ensino Fundamental Ensino Médio TOTAL Ensino Fundamental Ensino Médio TOTAL Ensino Fundamental Ensino Médio
N % N % N % N % N % N % N % N % N %
Renda familiar: 47 100,0 28 100,0 19 100,0 30 100,0 16 100,0 14 100,0 40 100,0 15 100,0 25 100,0
Até 4 salários mínimos 33 70,2 26 92,9 7 36,8 13 43,3 11 68,8 2 14,3 27 67,5 14 93,3 13 52,0
De 5 a 10 salários mínimos 3 6,4 2 7,1 1 5,3 9 30,0 5 31,3 4 28,6 1 2,5 1 6,7
De 10 a 15 salários mínimos 1 2,1 1 5,3 3 10,0 3 21,4
Prefere não responder 5 10,6 5 26,3 3 10,0 3 21,4 7 17,5 7 28,0
Não sabe 5 10,6 5 26,3 2 6,7 2 14,3 5 12,5 5 20,0

Os dados de nível de escolaridade da população estão em consonância com o perfil apresentado acima, de uma população com nível escolar alto e percentual considerável da população frequentando instituição escolar particular: da população em idade escolar no território (aqui considerada de 5 a 17 anos), que representa 17,5% da população total, 83,9% frequentam escola ou creche – percentual expressivo, que mostra a absorção das escolas para essa população.

Desta população, mais da metade (65,2%) frequenta instituição particular, enquanto 18,7% frequentam instituição pública. As crianças, adolescentes e jovens que não frequentam, mas já frequentaram escola ou creche, representam 4,3% e as que nunca frequentaram são 11,8% (Tabela 58). Na faixa etária entre 0 e 14 anos, 93,3% dos indivíduos sabem ler e escrever.

Distribuição da população das áreas de ponderação selecionadas, por idade escolar e restante da população, 2010.
População Centro Vila Madalena Fundão do Ângela
N % N % N %
População em idade escolar 33996 20,7 40489 17,5 76807 37,6
Restante da população 130491 79,3 190860 82,5 127461 62,4
Total 164487 100 231349 100 204268 100
Fonte: Censo 2010, IBGE, elaborac¸a~o pro´pria.

No levantamento primário realizado, de modo geral, a escolaridade dos pais dos alunos – um indicador importante dos impactos da universalização do ensino e que também tem impacto na educação das novas gerações – é relativamente alta, no entanto, é importante ressaltar que apenas 28,6% das mães e 35,5% dos pais possuem o nível de ensino que seus filhos deverão concluir, ou seja, o médio. Trata-se, portanto, para grande parte dos estudantes, de uma primeira geração na família que concluirá a educação básica (Tabela 45). Dos responsáveis pelos alunos pesquisados – a idade média das mães desses alunos é 43 anos e dos pais é 44 – apenas uma mãe e dois pais são analfabetos ou sem instrução.

Distribuição de mães e pais (ou responsáveis) dos alunos das escolas selecionadas, por nível de instrução, 2012.
Escola Centro Escola Vila Madalena Escola Fundão do Ângela
TOTAL Ensino Fundamental Ensino Médio TOTAL Ensino Fundamental Ensino Médio TOTAL Ensino Fundamental Ensino Médio
N % N % N % N % N % N % N % N % N %
Nível de instrução (mãe ou responsável): 67 100,0 49 100,0 18 100,0 35 100,0 23 100,0 12 100,0 68 100,0 45 100,0 23 100,0
Analfabeto ou sem instrução 1 2,9 1 4,3 4 5,9 2 4,4 2 8,7
Educação Infantil (inclusive creche) 1 1,5 1 2,2
Ensino Fundamental (1ª a 8ª série) incompleto 27 40,3 18 36,7 9 50,0 11 31,4 9 39,1 2 16,7 31 45,6 18 40,0 13 56,5
Ensino Fundamental (1ª a 8ª série) completo 7 10,4 5 10,2 2 11,1 4 11,4 2 8,7 2 16,7 15 22,1 12 26,7 3 13,0
Ensino Médio (antigo 2º grau) incompleto 5 7,5 5 10,2 1 2,9 1 4,3 2 2,9 1 2,2 1 4,3
Ensino Médio(antigo 2º grau) completo 24 35,8 19 38,8 5 27,8 10 28,6 5 21,7 5 41,7 14 20,6 10 22,2 4 17,4
Ensino Superior (Faculdade) incompleto 1 1,5 1 5,6 2 5,7 2 8,7
Ensino Superior (Faculdade) completo 3 4,5 2 4,1 1 5,6 6 17,1 3 13,0 3 25,0 1 1,5 1 2,2
Nível de instrução (pai ou responsável): 56 100,0 42 100,0 14 100,0 31 100,0 22 100,0 9 100,0 54 100,0 35 100,0 19 100,0
Analfabeto ou sem instrução 2 6,5 1 4,5 1 11,1 9 16,7 6 17,1 3 15,8
Educação Infantil (inclusive creche) 1 1,8 1 2,4 1 3,2 1 4,5 2 3,7 2 5,7
Ensino Fundamental (1ª a 8ª série) incompleto 18 32,1 12 28,6 6 42,9 7 22,6 7 31,8 24 44,4 12 34,3 12 63,2
Ensino Fundamental (1ª a 8ª série) completo 7 12,5 6 14,3 1 7,1 5 16,1 4 18,2 1 11,1 10 18,5 9 25,7 1 5,3
Ensino Médio (antigo 2º grau) incompleto 3 5,4 3 7,1 2 6,5 1 4,5 1 11,1 2 3,7 2 10,5
Ensino Médio(antigo 2º grau) completo 19 33,9 14 33,3 5 35,7 11 35,5 6 27,3 5 55,6 6 11,1 5 14,3 1 5,3
Ensino Superior (Faculdade) incompleto 3 5,4 3 7,1 1 1,9 1 2,9
Ensino Superior (Faculdade) completo 5 8,9 3 7,1 2 14,3 3 9,7 2 9,1 1 11,1

A tabela 45 mostra um afunilamento da escolarização, no qual os níveis mais altos são sempre menos acessíveis às pessoas da geração dos responsáveis dos alunos: completaram o ensino fundamental 65,7% das mães e 67,8% dos pais. Já o ensino médio foi conquistado por 51,4% das mães e 45,2% dos pais. E o ensino superior só foi alcançado por 17,1% das mães e 9,7% dos pais.

Da população em idade economicamente ativa (maior de 15 anos), que representa 59,4% da população do Bairro-escola Vila Madalena, pouco mais da metade (57,1%) encontrava-se ocupada, ou seja, estava trabalhando no período de referência da pesquisa – apenas 28,3% destes declararam estar em trabalhos formalizados (com carteira de trabalho assinada).

Os dados primários mostram percentual parecido de ocupados: 52,6% das mães e 53,3% dos pais estavam empregados (com ou sem carteira de trabalho assinada) na época da pesquisa. Além disso, 21,1% das mães e 13,3% dos pais trabalhavam como autônomos (por conta própria fazendo serviços) e 10,5% das mães e 13,3% dos pais são donos de negócio próprio. Apenas 5,3% das mães estavam desempregadas, enquanto 13,3% dos pais encontravam-se nesta situação. Em números absolutos, são 2 mães para 4 pais desempregados.

Apesar de o trabalho na infância e adolescência estar presente, tanto para os dados do território como um todo, quanto para o recorte de alunos, não foram encontrados números alarmantes: somente 0,9% das crianças e adolescentes com menos de 15 anos das áreas de ponderação do Bairro-escola Vila Madalena trabalharam durante pelo menos 1 hora no último ano – período de referência da pesquisa (IBGE, 2010), o que aponta para um percentual pouco expressivo de trabalho infantil no território como um todo.

Segundo a pesquisa realizada nas escolas para o diagnóstico, nos três territórios existem adolescentes trabalhando. No Bairro-escola Vila Madalena, apenas dois alunos trabalham, ambos do Ensino Médio – destes, um trabalha com registro na carteira de trabalho durante oito horas por dia, enquanto o outro trabalha com registro na carteira de trabalho durante quatro horas por dia.

Os dois responderam que gastam o dinheiro que ganham trabalhando com coisas para si e ajudando em casa, o que pode indicar que o salário destes jovens não é essencial para o sustento da família. Os dados levantados não apontam para nenhuma ilegalidade, uma vez que os estudantes do Ensino Médio têm idade acima de 15 anos e, no Brasil, são permitidos trabalhos exercidos por pessoas a partir dos 16 anos – na condição de aprendiz, a partir dos 14 anos.

O território apresenta boas condições de infraestrutura e habitação: apenas 1,8% dos domicílios está em situação de inadequação habitacional – sem rede de abastecimento de água, rede coletora de esgoto e fossa séptica, serviços de coleta de lixo e energia elétrica. Em São Paulo a cobertura de energia e esgoto é bastante ampla (não é um diferenciador entre territórios da cidade).

Um exemplo disso é a ligação com a rede de esgoto (um dos fatores determinantes que compõe o indicador de inadequação) já que 98,1% têm rede geral de esgoto ou pluvial. Grande parte dos domicílios (92,6%) tem de 1 a 4 moradores, número que se assemelha ao percentual do município (93,3%) e dos demais territórios.

Do ponto de vista do tipo de domicílios, somente 0,7% é de casas de cômodos, cortiços ou cabeças de porco (domicílios mais precários), enquanto 66,3% são apartamentos e 30,2% são casas – o que aponta também para um território mais verticalizado.

Em relação à caracterização dos domicílios, entre as famílias dos alunos pesquisados, a média de moradores por domicílio é de 4,4 pessoas, um pouco mais alta do que o território como um todo. Pouco mais da metade das famílias mora em casa (57,9%) e 36,8% em apartamento – proporção diferente daquela apresentada para o território como um todo cuja maioria mora em apartamento. Das famílias entrevistadas, 41% moram em imóvel alugado e 35,9% moram em imóvel próprio que já está pago.

Os dados sobre os domicílios também podem ser utilizados como caracterização da renda e acesso a meios de comunicação. Um exemplo disso são os dados a seguir, que apontam o Bairro-escola Vila Madalena como um território de maior poder aquisitivo, que complementam a apresentação já feita dos dados de renda da população do território.

Neste território, 83,7% dos domicílios possuem microcomputador, sendo que 81% desses estão ligados a uma rede de Internet. Entre os territórios estudados neste diagnóstico este é o maior percentual – como referência, apenas 39,2% das residências no Bairro-escola Fundão do Ângela possuem microcomputador, sendo que destes, apenas 29,9% estão conectados à Internet. O automóvel também está presente na maior parte dos domicílios (77,7%), enquanto no Centro pouco mais da metade (55%) dos domicílios possui automóvel e no Fundão do Ângela esse percentual é ainda menor (33%).

Os dados relacionados à violência no Bairro-escola Vila Madalena não o caracterizam como um território violento, ou, pelo menos, não como um dos mais violentos da cidade.

O distrito Alto de Pinheiros apresentou a menor taxa de mortalidade por causas externas do território (por cem mil habitantes) e a segunda mais baixa da cidade (18,5). No território, foi seguido de Perdizes (29,7) e Jardim Paulista (30,4), ambos também com taxas baixas. As maiores taxas do território foram as de Pinheiros (41,3) e Lapa (44,1). Todos os distritos do território apresentaram taxas menores do que a taxa do município de São Paulo (55,9).

Taxa de mortalidade por causas externas (por cem mil habitantes), dos distritos selecionados, 2010.
Centro
Barra Funda 48,71
Bom Retiro 35,48
Casa Verde 36,21
Santa Cecília 47,84
Pinheiros
Alto de Pinheiros 18,55
Lapa
Jd. Paulista 30,46
Perdizes 29,71
Pinheiros 41,3
Jardim Ângela
Jardim Ângela 61,02
Fonte: Fundação SEADE. Informação dos distritos administrativos da capital, 2010.

A taxa de mortalidade por agressões foi entre 3,4 e 5,4 – as menores entre os três territórios estudados neste diagnóstico (Tabela 92). Todos os distritos tiveram taxas de mortalidade por agressões menores que a taxa do município (12,9).

Taxa de mortalidade por agressões (por cem mil habitantes) dos distritos selecionados, 2010.
Centro
Barra Funda
Bom Retiro 5,9
Casa Verde 11,7
Santa Cecília 10,8
Pinheiros
Alto de Pinheiros 4,6
Lapa 5,4
Jd. Paulista 3,4
Perdizes 4,6
Pinheiros
Jardim Ângela
Jardim Ângela 21,4
Fonte: Fundação SEADE. Informação dos distritos administrativos da capital, 2010.

Na pesquisa, os alunos foram questionados sobre a vivência de situações relacionadas à violência. Mais da metade (56,4%) dos alunos disse que alguém já lhes ofendeu ou agrediu com palavrões, 20,5% que alguém já lhes bateu com socos e pontapés e 15,4%dos alunos tiveram algum parente próximo ferido com arma de fogo ou faca – percentual bem parecido com os outros territórios.

Mais da metade dos alunos já viu alguém sendo assaltado (60%), 48,6% já viram a polícia prendendo alguém e o mesmo percentual já viu alguém sendo agredido. Com exceção de assaltos, todas as outras situações foram vistas por um percentual menor de jovens neste território se comparado aos outros dois. Para efeito de comparação, 78,7% dos alunos já viram a polícia prendendo alguém no Bairro-escola Centro e 83,3% já passaram por esta situação no Bairro-escola Fundão do Ângela.

O consumo de tabaco, álcool e drogas está presente no território. Apenas um aluno (do Ensino Médio) afirmou ter o costume de fumar cigarro – mesmo número que afirmou consumir alguma droga ilícita – e 28,6% dos alunos responderam que costumam tomar bebida alcoólica. No entanto, metade dos alunos do Ensino Médio disse ter amigos ou colegas que fazem uso frequente de drogas ilícitas e 54,3% já viram alguém usando drogas. Já foram oferecidas drogas para 15,4% dos alunos. A discrepância entre os que admitem utilizar drogas e o que dizem sobre os amigos indica que os respondentes tendem a não assumir este comportamento, o que pode ser influenciado pelo fato de que os questionários deveriam ser respondidos na presença de um dos pais.

Com o intuito de entender qual é a relação das crianças e jovens com o entorno da escola e o bairro em que moram, foram feitas algumas perguntas sobre o conhecimento e o uso que este público faz do território.

Menos da metade (41%) dos alunos afirmou que visita ou conhece algum lugar perto da escola, sendo que 21,4% disseram conhecer ou visitar parques ou praças do entorno, como o Parque Villa Lobos e a Praça Pôr do Sol – 84,6% das famílias responderam que conhecem ou frequentam parques.

Quando perguntados sobre o que mais gostam no seu bairro, 52,6% dos alunos destacaram a “facilidade para ir a outros lugares da cidade”, 26,3% a “existência de áreas de lazer e esportes” e 23,7% “poder circular sem problemas de violência”. Mas quando perguntados sobre o que não gostam no bairro quem moram, tanto a inexistência de “lugares para se divertir” quanto a “insegurança de circular pelas ruas” são apontadas por 27,3% dos alunos.

Apesar de em um primeiro momento as respostas parecerem contraditórias, pelo fato de itens semelhantes aparecerem como o que mais gostam e o que não gostam, é preciso lembrar que podem ter sido alunos de diferentes bairros que deram cada uma das respostas. Assim, se em alguns casos a insegurança é um ponto negativo, para outros, poder circular sem problemas de violência é um ponto positivo do bairro onde moram.

“Não ter boas escolas” foi apontado por 21,2% dos alunos como o que não gostam no bairro em que residem, resposta que vai ao encontro da explicação (levantada anteriormente) para o percentual de alunos (38,5%) que não residem no território, mas se deslocam para esta escola.

A pesquisa mapeou o uso do tempo livre das crianças, adolescentes e jovens (Tabela 28), mostrando que grande parte do tempo é utilizado assistindo TV ou navegando na internet – especialmente as redes sociais – e que a utilização da rua como espaço de lazer é pequena.

Distribuição dos alunos das escolas selecionadas, por atividade que costumam fazer quando estão fora da escola, 2012.
Escola Centro Escola Vila Madalena Escola Fundão do Ângela
TOTAL Ensino Fundamental Ensino Médio TOTAL Ensino Fundamental Ensino Médio TOTAL Ensino Fundamental Ensino Médio
N % N % N % N % N % N % N % N % N %
Quando está fora da escola você costuma (RM): 67 100,0 49 100,0 18 100,0 35 100,0 22 100,0 13 100,0 68 100,0 45 100,0 23 100,0
Utilizar a internet para se divertir 42 62,7 28 57,1 14 77,8 22 62,9 15 68,2 7 53,8 36 52,9 23 51,1 13 56,5
Assistir rádio ou TV 38 56,7 30 61,2 8 44,4 24 68,6 15 68,2 9 69,2 37 54,4 29 64,4 8 34,8
Ouvir música 38 56,7 24 49,0 14 77,8 13 37,1 7 31,8 6 46,2 34 50,0 22 48,9 12 52,2
Passear no shopping 22 32,8 13 26,5 9 50,0 18 51,4 10 45,5 8 61,5 21 30,9 13 28,9 8 34,8
Ir ao cinema 21 31,3 11 22,4 10 55,6 9 25,7 5 22,7 4 30,8 12 17,6 9 20,0 3 13,0
Ficar na rua 16 23,9 9 18,4 7 38,9 4 11,4 1 4,5 3 23,1 20 29,4 13 28,9 7 30,4
Participar de atividades religiosas 10 14,9 8 16,3 2 11,1 2 5,7 2 15,4 8 11,8 5 11,1 3 13,0
Ir a parques de diversão 6 9,0 4 8,2 2 11,1 7 20,0 6 27,3 1 7,7 5 7,4 3 6,7 2 8,7
Participar de atividades comunitárias 5 7,5 5 10,2 3 8,6 3 13,6 5 7,4 5 11,1
Fazer outra coisa 5 7,5 4 8,2 1 5,6 4 11,4 3 13,6 1 7,7 3 4,4 2 4,4 1 4,3
Ir ao teatro 3 4,5 1 2,0 2 11,1 2 5,7 2 15,4 2 2,9 2 4,4
Fazer trabalho voluntário 3 4,5 2 4,1 1 5,6 1 2,9 1 7,7

Quando estão fora da escola, 68,6% dos alunos assistem TV ou escutam rádio, 62,9% utilizam a internet para se divertir e 51,4% passeiam no shopping – o shopping e os parques de diversão aparecem com maior expressividade neste território do que nos outros dois, o que pode ter relação com o maior poder aquisitivo dos moradores do território, já indicado acima, uma vez que essas atividades estão mais ligadas ao consumo e frequência a locais pagos.

Sobre o uso da internet, destaca-se a alta participação dos alunos nas redes sociais (87,2%) e o tempo utilizado neste tipo de atividade: mais da metade (52,9%) gasta entre 30 minutos e 2 horas e 14,7% gastam mais de 2 horas por dia nas redes. Vale destacar que, além do alto percentual de residências com microcomputadores no território, atualmente, os jovens utilizam a Internet também nos aparelhos celulares.

A atividade de “ficar na rua” aparece do Fundão do Ângela e no Centro em maior número do que no Bairro-escola Vila Madalena (apenas 11,4% dos alunos deste território responderam que ficam na rua quando não estão na escola). Este dado merece atenção, especialmente para refletir sobre a utilização dos espaços públicos por parte das crianças, adolescentes e jovens. A atividade de “ficar na rua” não pode ser imediatamente associada à apropriação pelos jovens dos espaços públicos. Muitas vezes, ficam na rua os adolescentes e jovens que não encontram em casa um ambiente confortável ou agradável e que também não encontram no bairro opções de lazer, culturais ou educativas que atendam suas necessidades.

Neste território, metade (50%) das crianças e jovens, quando vão a algum lugar que costumam frequentar, estão acompanhados dos pais ou outros parentes, percentual maior do que os que vão acompanhados pela família nos outros territórios.

Apesar da pesquisa não trazer uma explicação para isso, algumas hipóteses são possíveis de serem exploradas, como, por exemplo, o fato de os pais terem renda maior e, portanto, terem a possibilidade de passear mais com os filhos para lugares já citados anteriormente, como shoppings e parques de diversão. Pode estar associado também à questão da segurança – os mesmos pais que permitem menos que seus filhos fiquem nas ruas são os que permitem menos que eles frequentem lugares desacompanhados?

Apesar de 84,2% das crianças e jovens da escola terem respondido que têm uma religião – 62,5% são católicos, 28,1% evangélicos, 12,3% budistas, espíritas ou da umbanda –, apenas dois dos alunos pesquisados (5,7%) responderam que participam de atividades religiosas quando não estão na escola. Isso aponta para a possibilidade de a fé estar mais associada a uma questão de identidade do que propriamente de ligação com uma vida religiosa.