5.1.4.Eixo 4. Conhecer como vivem e pensam as crianças, adolescentes e jovens do território

As áreas de ponderação que compõem o Bairro-escola Centro têm uma população de 164.487 pessoas, o que corresponde a 1,4% da população total da cidade de São Paulo que é de 11.253.503. Quando considerados os distritos administrativos selecionados para compor o território (utilizados como aproximação), tem-se uma população de 217.410 pessoas (uma diferença de  52.923 pessoas). Essa diferenciação é importante para sabermos o contingente a qual nos referimos ao usar um dado ou outro.

Da população total do território considerado, 54,3% são do sexo feminino e 45,7% do sexo masculino (vide pirâmide etária), 73,3% se declaram brancos, 16,7% se declaram pardos e apenas 4,2% se declaram pretos. Ainda que haja grande diferença entre os que se declaram brancos e aqueles que afirmam ser pretos e pardos, no Bairro-escola Centro essa diferença é bem menor do que no caso do Bairro-escola Vila Madalena (6,3% se declaram pardos e apenas 2% se declaram pretos contra 84,2% de autodeclarados brancos).

A maior parte da população é composta por adultos acima de trinta anos (60%). No entanto, as crianças, adolescentes e jovens de zero a 29 anos representam mais de um terço (40%) da população desta área. Ao considerarmos a população total do município, a distribuição etária é mais equilibrada, enquanto os adultos correspondem a 52% as crianças/adolescentes/jovens correspondem a 48%.

Entre a população jovem (até trinta anos), 9.787 (6%) são crianças em idade pré escolar (zero a cinco anos), 9.863 (6%) crianças na faixa do ensino Fundamental I e anos iniciais do Fundamental II (seis a onze anos). Três por cento, 4.930, são adolescentes de doze a catorze anos e correspondem à idade dos alunos dos anos finais do ensino Fundamental II, 4.956 (3%) são adolescentes de quinze a dezessete anos na faixa do Ensino Médio e 36.129 (22%) são jovens de 18 a 29 anos. Ou seja, 18% são crianças e adolescentes de até dezessete anos e, se somarmos a este grupo, os jovens de até 24 anos, temos um total de 29,6% na faixa etária priorizada pelas ações do Bairro-escola.

Distribuição da população das áreas de ponderação selecionadas, por faixas de idade, 2010.
Faixas de idade Centro Vila Madalena Fundão do Ângela
N % N % N %
0 a 5 anos criança pré escolar 9787 6,0 12161 5,3 21019 10,3
6 a 11 anos criança 9863 6,0 11494 5,0 24159 11,8
12 a 14 anos adolescente 4930 3,0 5731 2,5 12395 6,1
15 a 17 anos adolescente jovem 4956 3,0 6299 2,7 12105 5,9
18 a 24 anos jovem 19004 11,6 20975 9,1 26114 12,8
25 a 29 anos jovens adultos 17125 10,4 21506 9,3 19512 9,6
30 anos ou mais adultos 98822 60,1 153184 66,2 88964 43,6
Total 164487 100 231349 100 204268 100
Fonte: Censo 2010, IBGE, elaboraç¸a~o pro´pria.

Em 2010, os índices de envelhecimento (relação entre o número de idosos e a população jovem) nos distritos deste território foram bem variados: o Bom Retiro apresentou um índice de 67,7%, enquanto a Santa Cecília teve índice de envelhecimento de 185% – em São Paulo esse índice ficou em 57,3%.

Índice de envelhecimento (pessoas de 60 e mais anos deidade, para cada 100 pessoas menores de 15 anos de idade) dos distritos selecionados, 2010.  (percentual)
Centro
Barra Funda 129,4
Bom Retiro 67,7
Casa Verde 89,8
Santa Cecília 185,0
Pinheiros
Alto de Pinheiros 175,6
Lapa 153,0
Perdizes 160,8
Pinheiros 185,3
Jardim Ângela
Jardim Ângela 21,7
Fonte: Fundação SEADE. Informação dos distritos administrativos da capital, 2010.

Como podemos ver, do ponto de vista do perfil demográfico, trata-se de um território bastante heterogêneo em que convivem realidades bastante distintas. Além do envelhecimento, um reflexo disso são as taxas de natalidade, que ficaram entre 12,12 nascidos vivos para cada mil habitantes na Santa Cecília (o distrito que apresentou o maior índice de envelhecimento) e 18,8 no Bom Retiro (distrito com o menor índice de envelhecimento), que resultam em taxas de crescimento populacional diferentes: a taxa geométrica de crescimento da população variou de 0,22 (na Casa Verde) a 2,4 (no Bom Retiro). Na cidade, essa taxa foi de 15,4.

Taxa de natalidade (por mil habitantes) dos distritos selecionados, 2010.
Centro
Barra Funda 14,6
Bom Retiro 18,8
Casa Verde 14,7
Santa Cecília 12,1
Pinheiros
Alto de Pinheiros 9,3
Lapa 11,9
Perdizes 10,2
Pinheiros 9,6
Jardim Ângela
Jardim Ângela 19,3
Fonte: Fundação SEADE. Informação dos distritos administrativos da capital, 2010.
Taxa geométrica de crescimento anual da população dos distritos selecionados, 2000/2010 (percentual a.a.)
Centro
Barra Funda 1,01
Bom Retiro 2,40
Casa Verde 0,22
Santa Cecília 1,60
Pinheiros
Alto de Pinheiros -0,32
Lapa 0,86
Perdizes 0,81
Pinheiros 0,34
Jardim Ângela
Jardim Ângela 1,87
Fonte: Fundação SEADE. Informação dos distritos administrativos da capital, 2010.

Cabe destacar a grande variação entre os distritos, sendo que Santa Cecília aparece como um local mais envelhecido, enquanto Bom Retiro aparece com as maiores taxas de crescimento e natalidade e a menor de envelhecimento. No caso do Bom Retiro, a concentração de migrantes internacionais recentes (como é o caso de bolivianos e paraguaios) pode ajudar a compreender um quadro de crescimento populacional, a hipótese da chegada de novos contingentes (que por si só aumentam a população) e também de padrões diferenciados de fecundidade.

Apesar de a maior parte da população ter mais de trinta anos e a taxa de envelhecimento de todos os distritos ter ficado acima da taxa da cidade como um todo, é possível verificar no território uma alta representatividade da faixa etária considerada jovem – 40% da população do território. Essa mesma faixa representa 33,9% da população do Bairro-escola Vila Madalena e 56,4% da população do Bairro-escola Fundão do Ângela.

Do total de mulheres que tiveram filhos no território em 2010, de 2,67 a 3,82% tornaram-se mães com menos de 18 anos. Em São Paulo essa taxa foi de 6,04%, o que mostra que o Bairro-escola Centro apresenta um baixo percentual de mães adolescentes. Na pesquisa realizada nas escolas de referência do Bairro-escola Centro, nenhuma aluna respondeu ter ou estar esperando filho, enquanto dois alunos – um de doze e outro de treze anos – responderam esta pergunta de forma afirmativa.

Nos dados primários a questão da migração aparece de maneira evidente e ajuda a caracterizar a peculiaridade deste território. Apesar de a maior parte dos alunos pesquisados (60,3%) ter nascido na cidade de São Paulo, é expressivo o número de alunos que nasceram em outra cidade (10,3%), outro estado (16,2%) ou outro país (13,2%) – este é o único entre os três territórios em que se verifica a presença forte de estrangeiros.

Todos os alunos estrangeiros – que fazem parte, provavelmente, da segunda geração de imigrantes internacionais – são do ensino fundamental, ou seja, de faixas etárias mais novas, o que aponta para uma migração recente. O percentual de pais nascidos em outros países – imigrantes de primeira geração – é ligeiramente maior que o de alunos (14,5%), enquanto o de mães chega a 21,7% do total. A origem migratória dos estrangeiros, em sua maioria latino-americanos, é reforçada pelo dado de que 18,8% dos alunos declararam que a língua falada em casa é o espanhol.

Apesar de ser uma região conhecida pela migração internacional – o Bom Retiro em especial é reconhecido como um dos bairros mais multiculturais de São Paulo –, a migração interna também é um fenômeno importante no território: 55,1% dos pais e 56,5% das mães nasceram em outro estado.

A maior parte dos alunos (95,7%) reside no interior do raio de 2km que delimita o espaço territorial do Bairro-escola Centro a partir da escola referência. Dentre os três Bairro-escolas estudados, este é o maior percentual, ou seja, se comparado com os outros dois, este território apresenta uma porcentagem maior de alunos que moram dentro do raio de 2km. Cerca de 59% dos alunos vai para a escola a pé e apenas 3 alunos disseram que levam mais de trinta minutos para chegar na escola – a mesma quantidade que mora fora do território.

Dos domicílios do território, apenas 2,8% estão na faixa de renda até um salário mínimo (SM) e 5% estão na faixa de um a dois SM, o que totaliza 7,8% de famílias abaixo da linha da pobreza, além de 6,8% das famílias que recebem de dois a tres SM. A faixa de tres a cinco SM concentra 15,4% dos domicílios. No entanto, a faixa salarial que concentra maior percentual de domícilios (25,4%) é a de cinco a dez SM. Podem ser consideradas de classe média alta e classe alta as 35,5% das famílias que recebem acima de dez SM na região.

Distribuição dos domicílios das áreas de ponderação selecionadas, por faixas de renda, 2010.
Faixas de renda Centro Vila Madalena Fundão do Ângela
N % N % N %
Até um SM 4557 2,8 2595 1,1 13532 6,6
de 1 a 2 SM 8202 5,0 5027 2,2 41680 20,4
de 2 a 3 SM 11140 6,8 7553 3,3 38871 19,0
de 3 a 5 SM 25332 15,4 15941 6,9 53663 26,3
de 5 a 10 SM 41851 25,4 40682 17,6 30962 15,2
de 10 a 20 SM 32104 19,5 57621 24,9 6045 3,0
Mais de 20 SM 26259 16,0 91793 39,7 1623 0,8
Sem renda 12689 7,7 8541 3,7 17783 8,7
Não declarado 2353 1,4 1596 0,7 108 0,1
Total 164487 100 231349 100 204268 100
Fonte: Censo 2010, IBGE, elaborac¸a~o pro´pria.

Já entre os alunos pesquisados, há uma concentração maior em faixas de renda menor: 70,2% com renda familiar até quatro SM, 6,4% na faixa de cinco a dez SM e apenas um aluno com renda de dez a quinze SM. Pouco mais de 21,2% dos alunos não souberam ou preferiram não responder.

Distrbuição dos alunos das escolas selecionadas, por renda familiar, 2012.
Escola Centro Escola Vila Madalena Escola Fundão do Ângela
TOTAL Ensino Fundamental Ensino Médio TOTAL Ensino Fundamental Ensino Médio TOTAL Ensino Fundamental Ensino Médio
N % N % N % N % N % N % N % N % N %
Renda familiar: 47 100,0 28 100,0 19 100,0 30 100,0 16 100,0 14 100,0 40 100,0 15 100,0 25 100,0
Até 4 salários mínimos 33 70,2 26 92,9 7 36,8 13 43,3 11 68,8 2 14,3 27 67,5 14 93,3 13 52,0
De 5 a 10 salários mínimos 3 6,4 2 7,1 1 5,3 9 30,0 5 31,3 4 28,6 1 2,5 1 6,7
De 10 a 15 salários mínimos 1 2,1 1 5,3 3 10,0 3 21,4
Prefere não responder 5 10,6 5 26,3 3 10,0 3 21,4 7 17,5 7 28,0
Não sabe 5 10,6 5 26,3 2 6,7 2 14,3 5 12,5 5 20,0

Dez alunos (14,5%) declararam receber benefícios sociais do governo (Bolsa Família e Renda Mínima) – número maior que o do território Vila Madalena (dois) e menor que o do Fundão do Ângela (dezoito). Considerando que estes benefícios são concedidos para famílias em situação de pobreza ou pobreza extrema, mesmo em territórios com percentuais menores, os números merecem a atenção por apontarem a presença de crianças/adolescentes/jovens nestas situações.

Os dados primários coletados revelam, portanto, que o perfil das famílias do território é diferente do perfil das famílias dos alunos da escola estudada, no que se refere à renda. Essa diferença talvez seja explicada pelo fato de a pesquisa ter sido feita em uma escola pública, onde a renda das famílias tende a ser menor.

Os dados de escolaridade apresentam um território com baixo analfabetismo (1,9%) e alto percentual de indivíduos que sabem ler e escrever na faixa etária entre 0 e 14 anos (92,2%). A maior parte da população em idade escolar (77,9%) – que representa 20,7% da população total – frequenta escola ou creche e está distribuída quase igualmente entre instituições privadas (38,5%) e instituições públicas (38,4%). É considerável o percentual de crianças, adolescentes e jovens que não frequentam, mas já frequentaram escola ou creche (9,8%) e das que nunca frequentaram (12,3%).

População das áreas de ponderação selecionadas que frequenta escola ou creche, 2010. (número absoluto)
Faixa de idade Centro Vila Madalena Fundão do Ângela
Sim, pública Sim, particular Não, já frequentou Não, nunca frequentou Total Sim, pública Sim, particular Não, já frequentou Não, nunca frequentou Total Sim, pública Sim, particular Não, já frequentou Não, nunca frequentou Total
População em idade escolar 13439 13045 3346 4167 33997 7552 26402 1749 4787 40490 51887 4655 8234 12032 76808
Restante da população 9148 13198 103912 4233 130491 10535 19133 157689 3502 190859 15141 3360 101108 7852 127461
Total 22587 26243 107258 8400 164488 18087 45535 159438 8289 231349 67028 8015 109342 19884 204269
Fonte: Censo 2010, IBGE, elaborac¸a~o pro´pria.

A escolaridade dos pais dos alunos – um indicador importante dos impactos da universalização do ensino e que tem muito impacto na educação das novas gerações – apresenta dois perfis distintos, um com escolaridade mais baixa e outro um pouco mais alta, concentrando-se os maiores percentuais entre os que têm o Ensino Fundamental incompleto e os que têm o Ensino Médio completo

Distribuição de mães e pais (ou responsáveis) dos alunos das escolas selecionadas, por nível de instrução, 2012.
Escola Centro Escola Vila Madalena Escola Fundão do Ângela
TOTAL Ensino Fundamental Ensino Médio TOTAL Ensino Fundamental Ensino Médio TOTAL Ensino Fundamental Ensino Médio
N % N % N % N % N % N % N % N % N %
Nível de instrução (mãe ou responsável): 67 100,0 49 100,0 18 100,0 35 100,0 23 100,0 12 100,0 68 100,0 45 100,0 23 100,0
Analfabeto ou sem instrução 1 2,9 1 4,3 4 5,9 2 4,4 2 8,7
Educação Infantil (inclusive creche) 1 1,5 1 2,2
Ensino Fundamental (1ª a 8ª série) incompleto 27 40,3 18 36,7 9 50,0 11 31,4 9 39,1 2 16,7 31 45,6 18 40,0 13 56,5
Ensino Fundamental (1ª a 8ª série) completo 7 10,4 5 10,2 2 11,1 4 11,4 2 8,7 2 16,7 15 22,1 12 26,7 3 13,0
Ensino Médio (antigo 2º grau) incompleto 5 7,5 5 10,2 1 2,9 1 4,3 2 2,9 1 2,2 1 4,3
Ensino Médio(antigo 2º grau) completo 24 35,8 19 38,8 5 27,8 10 28,6 5 21,7 5 41,7 14 20,6 10 22,2 4 17,4
Ensino Superior (Faculdade) incompleto 1 1,5 1 5,6 2 5,7 2 8,7
Ensino Superior (Faculdade) completo 3 4,5 2 4,1 1 5,6 6 17,1 3 13,0 3 25,0 1 1,5 1 2,2
Nível de instrução (pai ou responsável): 56 100,0 42 100,0 14 100,0 31 100,0 22 100,0 9 100,0 54 100,0 35 100,0 19 100,0
Analfabeto ou sem instrução 2 6,5 1 4,5 1 11,1 9 16,7 6 17,1 3 15,8
Educação Infantil (inclusive creche) 1 1,8 1 2,4 1 3,2 1 4,5 2 3,7 2 5,7
Ensino Fundamental (1ª a 8ª série) incompleto 18 32,1 12 28,6 6 42,9 7 22,6 7 31,8 24 44,4 12 34,3 12 63,2
Ensino Fundamental (1ª a 8ª série) completo 7 12,5 6 14,3 1 7,1 5 16,1 4 18,2 1 11,1 10 18,5 9 25,7 1 5,3
Ensino Médio (antigo 2º grau) incompleto 3 5,4 3 7,1 2 6,5 1 4,5 1 11,1 2 3,7 2 10,5
Ensino Médio(antigo 2º grau) completo 19 33,9 14 33,3 5 35,7 11 35,5 6 27,3 5 55,6 6 11,1 5 14,3 1 5,3
Ensino Superior (Faculdade) incompleto 3 5,4 3 7,1 1 1,9 1 2,9
Ensino Superior (Faculdade) completo 5 8,9 3 7,1 2 14,3 3 9,7 2 9,1 1 11,1

Como vemos na Tabela 45, 40,3% das mães e 32,1% dos pais possuem Ensino Fundamental Incompleto. Já em relação ao Ensino Médio, 35,8% das mães e 33,9% dos pais o concluíram. O Bairro-escola Centro é o único território sem pais ou mães analfabetos ou sem instrução.

A tabela mostra um afunilamento da escolarização, no qual os níveis mais altos são sempre menos acessíveis, principalmente para as mulheres da geração dos responsáveis dos alunos: completaram o ensino fundamental 59,7% das mães e 66,1% dos pais. Já o ensino médio foi conquistado por 41,8% das mães e 48,2% dos pais. E o ensino superior só foi alcançado por 4,5% das mães e 8,9% dos pais.

Da população em idade economicamente ativa do território (maior de quinze anos), pouco mais da metade (55,8%) encontrava-se ocupada, ou seja, estava trabalhando no período de referência da pesquisa – mas apenas 30,5% destes declarou estar em trabalhos formalizados (com carteira de trabalho assinada).

Os dados primários mostram percentuais parecidos, ainda que revelem uma taxa de ocupação menor: 47,8% das mães e 45,1% dos pais estavam empregados (com ou sem carteira de trabalho assinada) na época da pesquisa. O percentual de pais que trabalhavam como autônomos (29,4%) e donos do próprio negócio (17,6%) somam 47%, ou seja, percentual maior do que os empregados. Para as mães, essas duas ocupações representam 35,8%, sendo 23,9% autônomas e 11,9% donas de negócio próprio. Apenas 3,9% dos pais estavam desempregados, enquanto 0,4% das mães encontravam-se nesta situação. Em números absolutos, são dois pais para sete mães desempregadas.

O trabalho na infância e adolescência está presente no território do Bairro-escola Centro: 3,8% de crianças e adolescentes com menos de quinze anos trabalharam durante pelo menos uma hora no último ano – período de referência da pesquisa (IBGE, 2010). Apesar de ser um percentual baixo, em números absolutos corresponde a 391 pessoas.

Segundo a pesquisa realizada nas escolas, nos três territórios existem alunos trabalhando, sendo o Fundão do Ângela com o maior percentual (20,3%), contra 14,5% no Centro e 5,1% no Vila Madalena. No entanto, entre os territórios pesquisados, o Bairro-escola Centro se destaca pelo fato de ter o maior percentual de alunos do Ensino Fundamental trabalhando – são oito, para dois do Ensino Médio.

Menos da metade (40%) dos alunos que trabalham têm registro em carteira de trabalho e os seis alunos que não têm registro são do Ensino Fundamental. Com relação às horas trabalhadas, quatro alunos responderam que trabalham entre três e oito horas (número de horas permitido por lei para maiores de dezesseis anos), um aluno respondeu que trabalha nove horas por dia, três que trabalham dez horas por dia e um ainda disse trabalhar durante doze horas por dia – os quatro últimos são do Ensino Fundamental.

Dos alunos que responderam como gastam o dinheiro que ganham trabalhando, cinco disseram que gastam com si próprios e ajudando em casa e três (do Ensino Fundamental) responderam que gastam ajudando em casa – indicando um peso maior deste trabalho para o sustento da família.

Além do número excessivo de horas trabalhadas por dia, os números despertam a atenção pois apontam para uma situação de trabalho infantil (ilegal), uma vez que os estudantes do Ensino Fundamental têm catorze anos ou menos e, no Brasil, são permitidos trabalhos exercidos por pessoas a partir dos dezesseis anos ou a partir dos catorze anos, apenas na condição de aprendiz.

Cabe questionar: onde e quais são as ocupações das crianças e adolescentes menores de catorze anos em situação de ilegalidade? Fazem parte das famílias em situação de pobreza ou extrema pobreza que recebem benefícios sociais do governo? A escola tem percebido e trabalhado essa questão?

O território apresenta boas condições de infraestrutura e habitação: apenas 2,9% dos domicílios estão em situação de inadequação habitacional – sem rede de abastecimento de água, rede coletora de esgoto e fossa séptica, serviços de coleta de lixo e energia elétrica –, o que é considerado comum em uma cidade como São Paulo cuja cobertura de energia e esgoto é bastante ampla (não é um diferenciador entre territórios da cidade).

Um exemplo disso é a ligação com a rede de esgoto (um dos fatores determinantes que compõe o indicador de inadequação) já que na região do Bairro-escola Centro 95,3% têm rede geral de esgoto ou pluvial. Grande parte dos domicílios (90,7%) têm de um a quatro moradores, número pouco abaixo do percentual do munícipio (93,3%) e dos demais territórios.

Do ponto de vista do tipo de domicílios, 4,4% são casas de cômodos, cortiços ou cabeças de porco (domicílios mais precários) – maior percentual entre os territórios analisados –, enquanto 75,4% são apartamentos e 16,2% são casas, revelando um território mais verticalizado.

Em relação à caracterização dos domicílios, entre as famílias dos alunos pesquisados, a média de moradores por domicílio é de 5,1 pessoas. Pouco mais da metade das famílias mora em apartamento (51,5%) e 39,4% em casa. Das famílias entrevistadas, 46,3% moram em imóvel alugado e 22,4% mora em imóvel próprio que já está pago.

Os indicadores relacionados aos domicílios também podem ser utilizados como caracterização da renda e acesso a informação. Um exemplo disso são os dados relacionados a bens de consumo, como os apresentados a seguir.

Neste território, 70,4% dos domicílios possuem microcomputador e 61,5% além de possuírem o aparelho, estão ligados a uma rede de Internet. Podem ser considerados percentuais expressivos – como referência, apenas 39,2% das residências no Bairro-escola Fundão do Ângela possuem microcomputador e 29,9% estão conectados à Internet. O automóvel também está presente em mais da metade dos domicílios (53,9%), enquanto no Fundão do Ângela ele está em 33% dos domicílios e no Bairro-escola Vila Madalena em 77,7%.

Os dados relacionados à violência no Bairro-escola Centro não o caracterizam como um território violento, tendo apresentado taxas de mortalidade por causas externas abaixo das encontradas para o município como um todo. Esta taxa variou de 35,48 (no Bom Retiro) a 48,71 (na Barra Funda), enquanto esse número foi de 55,9 em São Paulo. A taxa de mortalidade por agressão ficou entre 5,9 e 11,7, sendo que a Casa Verde apresentou a taxa mais próxima da de São Paulo (12,9), enquanto as outras ficaram ainda mais abaixo.

Taxa de mortalidade por causas externas (por cem mil habitantes), dos distritos selecionados, 2010.
Centro
Barra Funda 48,71
Bom Retiro 35,48
Casa Verde 36,21
Santa Cecília 47,84
Pinheiros
Alto de Pinheiros 18,55
Lapa
Jd. Paulista 30,46
Perdizes 29,71
Pinheiros 41,3
Jardim Ângela
Jardim Ângela 61,02
Fonte: Fundação SEADE. Informação dos distritos administrativos da capital, 2010.
Taxa de mortalidade por agressões (por cem mil habitantes) dos distritos selecionados, 2010.
Centro
Barra Funda
Bom Retiro 5,9
Casa Verde 11,7
Santa Cecília 10,8
Pinheiros
Alto de Pinheiros 4,6
Lapa 5,4
Jd. Paulista 3,4
Perdizes 4,6
Pinheiros
Jardim Ângela
Jardim Ângela 21,4
Fonte: Fundação SEADE. Informação dos distritos administrativos da capital, 2010.

Na pesquisa feita junto aos estudantes, mais da metade (60,7%) já viu alguém sendo assaltado, 78,7% já viram a polícia prendendo alguém e 57,4% já viram alguém sendo agredido próximo ao seu local de moradia. Com exceção da situação de assaltos – que apresenta percentual parecido nos três territórios – as outras duas situações foram vistas neste território por um percentual de alunos mais parecido com o do Fundão do Ângela do que da Vila Madalena – 48,6% dos alunos já viram a polícia prendendo alguém no Bairro-escola Vila Madalena e 83,3% já passaram por esta situação no Bairro-escola Fundão do Ângela.

Na pesquisa, os alunos também foram questionados sobre situações relacionadas a violência que poderiam já ter acontecido com eles em suas vidas. Mais da metade (59,4%) dos alunos disse que alguém já lhes ofendeu ou agrediu com palavrões,17,4% que alguém já lhes bateu com socos e pontapés e o mesmo percentual teve algum parente próximo ferido com arma de fogo ou faca – número bem parecido com os outros territórios. Ainda que sejam dados relevantes, pois relacionam-se com experiências dos alunos, cabe lembrarmos que estes fatos podem ter acontecido em outros territórios.

O consumo de tabaco, álcool e drogas está presente entre os alunos do Ensino Médio. Apenas um aluno afirmou ter o costume de fumar cigarro, dois responderam que já utilizaram ou utilizam alguma droga ilícita e sete (36,8%) alunos responderam que costumam tomar bebida alcoólica. Pouco mais da metade (52,6%) dos alunos do Ensino Médio disse ter amigos ou colegas que fazem uso frequente de drogas ilícitas e 75,4% já viram alguém usando drogas. Já foram oferecidas drogas para 15,9% dos alunos.

A discrepância entre os que admitem utilizar drogas e o que dizem sobre os amigos indica que os respondentes tendem a não assumir este comportamento, o que pode ser influenciado pelo fato de que os questionários deveriam ser respondidos na presença de um dos pais.

Com o intuito de entender qual é a relação das crianças e jovens com o entorno da escola e o bairro em que moram, foram feitas algumas perguntas sobre o conhecimento e o uso que este público faz do território.

Mais da metade (59,4%) dos alunos afirmou que visita ou conhece algum lugar perto da escola. Destes, 52,5% disseram ser o WalMart, 10% o supermercado e 5% o hipermercado, respostas que possivelmente também se referem ao WalMart, já que a pergunta era aberta –. Em seguida vem a casa de amigos, citada por 15% dos alunos. Os outros locais foram citados por apenas dois – quadra e parques– ou um aluno cada.

Ainda que em um primeiro momento chame a atenção o fato de um hipermercado ser o primeiro local lembrado pela maioria dos alunos que afirmaram conhecer ou visitar algum lugar perto da escola, cabe destacarmos que esta resposta não significa que os alunos não frequentam ou conhecem outros espaços do território, posto que os alunos, por meio do questionário, podem ter compreendido que deveriam citar apenas um local que visitam ou conhecem. O hipermercado talvez seja o mais citado por estar efetivamente mais próximo da escola, em comparação a outros locais – o Walmart está a poucos metros da mesma. É possível que os alunos frequentem o WalMart com a família (para fazer compras) e com os amigos (como lazer), já que o local possui uma infraestrutura com restaurantes, lanchonetes e lojas.

Um número entretanto que necessita ser observado é o de alunos que declaram não conhecer ou visitar qualquer local próximo à escola (40,6%).  Em uma região que possui uma significativa oferta de potenciais educativos, entre eles museus, parques, clube-escolas, entre outros, cabe indagarmos: como a escola tem explorado o território enquanto recurso pedagógico?

Quando perguntados sobre o que mais gostam no seu bairro, um total de 42% dos alunos (68% dos alunos do Ensino Médio e 32% dos alunos do Ensino Fundamental) responderam a “facilidade para ir a outros lugares da cidade”. A diferença nos percentuais está ligada a idade dos alunos: por serem mais velhos, os alunos do Ensino Médio podem se deslocar para outros lugares da cidade por meio de transporte público, com amigos ou sozinhos, o que confere mais importância ao item nesta faixa de idade.

O que comprova essa ideia é o fato de que, neste território, quase a metade (49,3%) das crianças e jovens quando vão a algum lugar que costumam frequentar estão acompanhados dos amigos – para o Ensino Médio esse percentual é de 73,7% e para o Ensino Fundamental é de 40%. Cerca de quarenta e oito por cento dos alunos do Fundamental quando vão a algum lugar estão acompanhados dos pais ou parentes, enquanto esse percentual é de apenas 15,8% no Ensino Médio.

A diferença nas respostas em cada faixa de idade também merece destaque no segundo item mais respondido: 33,3% dos alunos disseram que o que mais gostam no seu bairro é a “existência de áreas de lazer e esportes” (maior percentual entre os territórios analisados), resposta dada por 40% dos alunos do Ensino Fundamental e apenas 15,8% dos alunos do Ensino Médio.

O terceiro item mais respondido sobre o que mais gostam no seu bairro foi “seus vizinhos e amigos”, por 26,1% dos alunos – percentual maior do que no Bairro-escola Vila Madalena (18,4%) e menor do que no Fundão do Ângela (47,1%).

Já quando perguntados sobre o que não gostam no bairro que moram, 43,9% dos alunos responderam “não ter lugar para se divertir” – 57,9% dos alunos do Ensino Médio e 38,3% dos alunos do Fundamental deram essa resposta.

Os dados parecem apontar que os alunos mais novos identificam mais as áreas de lazer e esportes do bairro onde moram – e talvez as utilizem mais – do que os alunos adolescentes. Outra explicação seria que o território oferece mais possibilidades de lazer e esportes para crianças e menos locais atrativos para os adolescentes.

A segunda resposta que mais aparece para essa pergunta é a “insegurança de circular pelas ruas”, dada por 42,4% dos alunos – maior percentual na comparação com Vila Madalena e Fundão do Ângela. Já “não ter boas escolas” foi apontado por apenas 7,6% dos alunos como o que não gostam no bairro em que residem, menor percentual entre os três territórios.

A pesquisa identificou o uso do tempo livre das crianças e jovens, mostrando que quando estão fora da escola, 62,7% dos alunos utilizam a internet para se divertir, 56,7% assistem rádio ou TV e o mesmo percentual ouve música. Passear no shopping aparece como a quarta atividade mais citada (32,8%), seguida de ir ao cinema (31,8%) e ficar na rua (23,9%) – esta última aparece do Fundão do Ângela e no Centro em maior número do que no Bairro-escola Vila Madalena.

Distribuição dos alunos das escolas selecionadas, por atividade que costumam fazer quando estão fora da escola, 2012.
Escola Centro Escola Vila Madalena Escola Fundão do Ângela
TOTAL Ensino Fundamental Ensino Médio TOTAL Ensino Fundamental Ensino Médio TOTAL Ensino Fundamental Ensino Médio
N % N % N % N % N % N % N % N % N %
Quando está fora da escola você costuma (RM): 67 100,0 49 100,0 18 100,0 35 100,0 22 100,0 13 100,0 68 100,0 45 100,0 23 100,0
Utilizar a internet para se divertir 42 62,7 28 57,1 14 77,8 22 62,9 15 68,2 7 53,8 36 52,9 23 51,1 13 56,5
Assistir rádio ou TV 38 56,7 30 61,2 8 44,4 24 68,6 15 68,2 9 69,2 37 54,4 29 64,4 8 34,8
Ouvir música 38 56,7 24 49,0 14 77,8 13 37,1 7 31,8 6 46,2 34 50,0 22 48,9 12 52,2
Passear no shopping 22 32,8 13 26,5 9 50,0 18 51,4 10 45,5 8 61,5 21 30,9 13 28,9 8 34,8
Ir ao cinema 21 31,3 11 22,4 10 55,6 9 25,7 5 22,7 4 30,8 12 17,6 9 20,0 3 13,0
Ficar na rua 16 23,9 9 18,4 7 38,9 4 11,4 1 4,5 3 23,1 20 29,4 13 28,9 7 30,4
Participar de atividades religiosas 10 14,9 8 16,3 2 11,1 2 5,7 2 15,4 8 11,8 5 11,1 3 13,0
Ir a parques de diversão 6 9,0 4 8,2 2 11,1 7 20,0 6 27,3 1 7,7 5 7,4 3 6,7 2 8,7
Participar de atividades comunitárias 5 7,5 5 10,2 3 8,6 3 13,6 5 7,4 5 11,1
Fazer outra coisa 5 7,5 4 8,2 1 5,6 4 11,4 3 13,6 1 7,7 3 4,4 2 4,4 1 4,3
Ir ao teatro 3 4,5 1 2,0 2 11,1 2 5,7 2 15,4 2 2,9 2 4,4
Fazer trabalho voluntário 3 4,5 2 4,1 1 5,6 1 2,9 1 7,7

Sobre o uso da internet, destaca-se a alta participação dos alunos nas redes sociais (82,6%) e o tempo utilizado neste tipo de atividade: quase a metade (47,4%) gasta entre trinta minutos e duas horas e 29,8% gastam mais de duas horas por dia nas redes. Vale destacar que, além do alto percentual de residências com microcomputadores no território, atualmente a Internet também é acessada em lan houses e por meio de aparelhos celulares.

O Bairro-escola Centro foi o território com maior percentual de alunos que respondeu não ter religião: 20,6%, contra 15,8% do Vila Madalena e 9,7% do Fundão do Ângela. Dos alunos que responderam ter uma religião, 51,9% são católicos, 35,2% evangélicos, 11,1% espíritas e um aluno é da religião judaica. Apesar de 54 alunos terem uma religião, apenas dez responderam que participam de atividades religiosas quando não estão na escola. Isso aponta para a ideia de que, para a maioria, a fé pode estar mais associada a uma questão de identidade do que propriamente de ligação com uma vida religiosa.