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29 de abril de 2014

Encontro de imigrantes da Síria e Nigéria com estudantes promove troca cultural

Por Danilo Mekari, do Portal Aprendiz

Imagine a cena: uma sala de aula em uma escola estadual de São Paulo com dez solicitantes de refúgio no Brasil – um casal de sírios e oito nigerianos – e cerca de 70 alunos atentos e curiosos em conhecer suas culturas e histórias de vida.

Pois ela aconteceu na última sexta-feira (25/4), em um encontro do projeto Trilhas da Cidadania com os alunos do ensino fundamental e médio da Escola Estadual Canuto do Val, na Barra Funda. O encontro despertou o interesse tanto dos adolescentes – dispostos a conhecer mais sobre culturas estrangeiras – quanto dos imigrantes, ansiosos para se adaptarem ao país e, principalmente, à língua portuguesa, um dos maiores obstáculos nesta chegada.

Para receber os visitantes, os alunos prepararam bolo de fubá e pão de queijo, acompanhados por café com leite, e distribuíram uma receita desses quitutes típicos do Brasil.

Sírios

Os solicitantes de refúgio puderam então contar um pouco de suas vidas. O casal de sírios Faraj e Mayada retomou a história da capital de seu país, Damasco, lembrando que se trata da cidade mais antiga do mundo: segundo historiadores, ela foi fundada 9 mil anos a.C. O idioma arábico – que, de acordo com Faraj, era a língua “falada por Jesus Cristo” – e as cerimônias de Páscoa do país também foram citados.

Quando alunos perguntaram a opinião deles acerca da guerra civil na Síria, onde já ocorreram mais de 150 mil mortes desde 2011 (de acordo com a ONG Observatório Sírio dos Direitos Humanos), Faraj foi sucinto: “a integridade do nosso país e de todos os cidadãos é mais importante do que as vontades do presidente”.

Nigerianos

A maioria dos nigerianos presentes no encontro pertence à etnia Igbo e adora sopa de peixe com inhame. Tanto que, assim como os alunos, eles também passaram as receitas de seus pratos prediletos e mostraram vídeos sobre festivais e danças tradicionais do país. Houve até quem arriscasse alguns passos em plena sala de aula: Victor, ao ouvir a música de sua terra natal, balançou o corpo em uma dança típica africana, recebendo aplausos dos alunos e colegas.

Junior fez questão de mostrar imagens e lances do jogador de futebol nigeriano Nwankwo Kanu, um de seus maiores ídolos no país, que jogou em clubes importantes da Inglaterra e Itália e foi campeão olímpico em 1996, eliminando a seleção brasileira na semifinal do torneio.

Um dos destaques do encontro ficou por conta de Nicolas. “Vocês são muito bonitos”, declarou o nigeriano, antes de mostrar o clipe uma de suas músicas preferidas: African Queen, de 2Face Idibia, quando aproveitou para soltar a voz e alegrar os estudantes. Curiosos acerca das vestimentas coloridas usadas pelas mulheres no vídeo, os jovens queriam saber se aquelas roupas são usadas no dia a dia. “Na verdade, essas são as roupas usadas em eventos tradicionais do país, como festivais e casamentos”, respondeu Victor.

Brasil

Em contrapartida, o professor de História da Escola Estadual lembrou que grande parte da cultura brasileira tem herança africana. “Acarajé, feijoada, nossa linguagem, a capoeira, tudo isso surge de uma mistura entre as nossas culturas”, ressalta. Os alunos da 8ª série preparam uma apresentação de capoeira para os visitantes, que puderam esclarecer algumas dúvidas sobre a prática: “é dança ou luta?”. “Era luta antigamente, quando os escravos usavam seus próprios corpos pra se defender. Hoje é dança”, respondeu o professor.

Os alunos, então, puderam fazer uma série de perguntas. O que eles estão achando do Brasil? Já sofreram preconceito? Do que sentem falta de sua terra natal?

“O povo brasileiro tem me recebido muito bem. É aberto e acolhedor. Ainda tenho muita dificuldade com a língua, que é bonita, mas muito difícil”, analisou Victor.

“Achei o encontro muito interessante. Deu pra conhecer novas culturas e novas pessoas que estão a fim de morar na mesma cidade que nós”, afirmou Josias, estudante da 8ª série que é descendente de paraguaios.

Os solicitantes de refúgio presentes no encontro estão participando do Trilhas da Cidadania desde o início de fevereiro e têm a formatura prevista para o mês de maio.

(Fotos: Danilo Mekari)

*Criado em 2012, o projeto Trilhas da Cidadania é realizado pela Cidade Escola Aprendiz em parceria com a Cáritas Arquidiocesana de São Paulo e a Editora Moderna, com apoio do Museu de Arte Sacra de São Paulo. Com o objetivo de apoiar a integração de imigrantes e solicitantes de refúgio com a cultura do país, o projeto oferece oportunidades de ensino da língua portuguesa e orientação sobre aspectos culturais e cidadania.

 

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